terça-feira, 12 de agosto de 2008

Igreja Católica fala de “apreensões”
- É muito, mas muito, mais do que isso

A Igreja Católica de Angola considera que ainda há "apreensões" em relação às legislativas que se avizinham, mas desafia os eleitores a votar sem temores e a dar uma resposta aos políticos de que não desejam a guerra. É claro que ninguém deseja a guerra, a não ser os que temem perder privilégios e que, no caso de Angola, são muitos.

"Apreensões há, não o podemos negar, porque a experiência de 1992 foi dura e marcou muito as pessoas", afirmou à Agência Lusa o padre José Imbamba, director de comunicação da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).

Mas será que são só as de 1992? Ou seja, recorde-se, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e cidadãos Ovimbundu e Bakongo, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de mais de 40.000 angolanos terem sido torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongo, tendo assassinato perto de 300 civis?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado e destruido a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis?

Mas será que são só as de 1992? Ou também o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país?


Texto do jornalista Orlando Castro publicado em http://altohama.blogspot.com/

Sem comentários: