domingo, 6 de julho de 2008

Dúvidas e (in)certezas sobre Angola

Por Orlando Castro

Isaías Samakuva sabe o que fazer agora que as eleições estão aí ao dobrar da esquina, se é que estão?

Samakuva sabe como se pode vencer o MPLA. Mas Eduardo dos Santos sabe também como derrotar a UNITA. E para a derrotar tem de mandar a democracia dar uma volta, não ao bilhar grande mas ao Zimbabué. Falta saber se a comunidade internacional quer, ou não, evitar mais um barril de pólvora.

Haverá mesmo eleições?

Nesta matéria como em muitas outras, espero para ver. Para mim a estratégia do partido que comanda Angola desde 1975 continua a ser a de fingir, a de dar a ideia para o exterior que a democracia existe no país. Mas isso é falso. A democracia não é uma coisa abstracta. Tem parâmetros que a definem. E esses não existem. Alguém vê os tribunais a julgar? Não. Alguém vê o Parlamento a legislar? Não. Alguém vê o Governo a governar? Não. Quem manda, quem se substitui aos tribunais, à Assembleia Nacional e ao Governo é uma entidade não eleita que dá pelo nome de Presidência da República. Eleições? Quero ver para crer.

Mas é preciso começar por algum lado?

É claro que é e a UNITA mostrou de forma inequívoca que sabe o que é a democracia e adoptou-a definitivamente. Pelo exemplo dado estão no bom caminho. Aliás, Samakuva sabe que essa é a única via que tem para mostrar ao ao mundo que as democracias ocidentais estão a sustentar um regime corrupto e um partido que quer perpetuar-se no poder.

E a UNITA terá a partir e agora um novo alento, um alento decisivo?

Novo alento terá, com certeza. Decisivo já não sei. Vamos ver a equipa que Samakuva porá no terreno para sabermos se é uma equipa, se um conjunto de jogadores, ou apenas uns tantos amigos e apoiantes.

O futuro é sombrio?

Depende. A UNITA mostra todos os dias que é possível a democracia funcionar em Angola e, porque não dizê-lo?, em África. Mas será isso suficiente? Não. Não é. O mundo ocidental está (como sempre esteve) de olhos fechados para o enorme exemplo que a UNITA deu e continua a dar. Em 2003, abriu bem os olhos porque esperava o fim do partido. Isso não aconteceu. Agora vamos ver. O Ocidente vai – na minha opinião – querer continuar a ter boas relações com um regime corrupto e ditatorial. Porquê? Porque em democracia, como pretende a UNITA, isso não é possível.

Então o futuro não é sombrio, é tenebroso?

Como dizia o meu amigo Aurélio Vida de Deus, num artigo recente publicado no Notícias Lusófonas, o Ocidente “não vai reagir porque não interessa que a Democracia funcione em Angola, assim como não interessa que haja eleições, ao fim e ao cabo Angola está em Paz e nenhum governo “democrático” exige que haja eleições neste País”.

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